Genealogia de Jesus
Ghen'-es-is, Toledoth, outras traduções possíveis seria: "gerações", "origens", natividade. O termo escolhido nesta tradução, ou seja, história, segue a tradição da Septuaginta que traduz toledoth por genéseos, uma forma de gênesis no seu sentido básico de “história/narração sobre as origens” nas várias vezes que o termo aparece no livro de Gênesis. As outras traduções sugeridas também são aceitáveis, mas muitos acreditam que este primeiro versículo seja um título de todo o evangelho e não se refere apenas a essa porção genealógica inicial, mas também a todo o resto do livro.
Filho, usado no sentido de descendência, mas não necessariamente no sentido imediato de pai-filho. Era amplamente aceito entre os hebreus que o Messias viria da linhagem de Davi. Um ótimo exemplo de como devemos nos adaptar a maneira de falar dos antigos, sob pena de não os entendermos.
Esta genealogia difere da encontrada no Evangelho de Lucas. Os dois autores tinham a mesma intenção de demonstrar a anscendência direta ao rei David, pois de outra forma Jesus não poderia ser o Cristo. Contudo, uma vez que era o costume o genro passar para a família do sogro no caso deste não ter herdeiros, e Maria sendo filha única, José ficou com duas genealogias. A natural (encontrada em Mateus) e a legal, (encontrada em Lucas).
Não era costume entre os israelitas citar mulheres na genealogia, contudo quatro mulheres são citadas na genealogia de Jesus lembrando ao leitor que Deus está acima dos costumes e tradições humanas e pode escolher inclusive o considerados fracos e excluidos para realizar seus planos. Tamar nos remete a fracasso de Judá, Raabe, foi uma prostituta, Rute uma judia convertida dentre os moabitas, Bate-Seba, foi considerada a causa da derrocada do rei David e Maria por fim cumpre a importante profecia feita em Gn 3:15.
A providência divina é peculiarmente revelada visto posto que Salmom, Boaz e Obede, tinham cada um aproximadamente 100 anos quanto tiveram seus filhos.
Bate-Seba, após a morte de Urias tornou-se esposa de David.
Mas não imediamente considerando que entre Jorão e Uzias existem as gerações de Jeroão, Joas, e Amazias. O sentido aqui é como em Jesus filho de David e Abraão.
Da qual nasceu Jesus, uma mudança na forma de falar mostra o nascimento de Jesus como algo distinto do restante da genealogia. Maria é a mãe especial d'Aquele que não teve pai biológico.
Diante deste breve passar de gerações, John Wesley observou o quão passageira é nossa vida na terra. A vida de reis e guerreiros, rainhas e prostitutas não é senão um sopro que passa enquanto a história continua de geração em geração. Dentre os tantos que já passaram, quantos não foram figuras de destaque para então perecer? De quantos não sobraram apenas o nome? De quantos nada sobrou? Assim como a morte chega a todos, todos seremos esquecidos. Que este seja um estímulo para quem quiser participar do Projeto Bíblia Aberta. Que o faça não por notoriedade, pois feliz é aquele que ainda que esquecidos pela humanidade é lembrados por Deus. Se nossos nomes se perderam nos livros dos homens poderão ainda estar a salvo no livro da vida.
Organizando a genealogia em três grupos de catorze gerações e cada geração em dois grupos de 7 (o número sagrado), Mateus talvez demonstre uma ordem, uma inteligência por trás da história de Israel. A primeira parte começa com Abraão e conclui no reinado de David. A segunda partindo da monarquia e vai até o exílio. E a terceira culmina no nascimento de Jesus. Por outra lado, talvez sua intenção fosse facilitar a memorização da genealogia dividindo em 3 grupos lógicos de 14 gerações.
O evangelho de Mateus começa seu primeiro capítulo apresentando uma genealogia de Jesus. Mateus o faz descender de Abraão, através de 42 duas gerações (3 x 14). Assim começa o mais semítico dos evangelhos: "Livro das origens de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. Abraão gerou[1] Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou Judá e seus irmãos..." (Mt 1,1-2). Essa genealogia é artificial, sem pretensão histórica, no sentido moderno do termo. Ela é divergente da genealogia de Jesus apresentada pelo evangelho de Lucas (Lc 3,23). Nem no nome do pai de Jesus elas concordam. Para Lucas (3,23), o pai de José era Eli e não Jacó (Mt 1,16).
Estranha essa genealogia de Mateus. Ele optou por não citar três reis de Israel entre Jorão e Osias. Gente importante! Ele não menciona Sará, a mulher de Abraão, nem o nome das outras mulheres, sem as quais todos esses homens não teriam gerado nada. Mateus menciona apenas quatro mulheres, quatro prostitutas: Tamar, Raabe, Rute e Betsabé. Três delas eram estrangeiras, não judias. Contrariando a lei, a teologia da pureza da raça, a proibição sacerdotal contra os casamentos mistos, passíveis de punição com a morte (Nm 25,1-17). Raabe era prostituta profissional. As outras três prostituíram-se.
O verbo prostituir é um verbo erótico, cheio de posições e inflexões: transitivo direto, copulativo, bitransitivo e pronomial, com vários sentidos figurados, derivações e usos gramaticais. Designa a atitude entregar-se à cópula sexual em troco de dinheiro ou qualquer tipo de vantagem material, pessoal ou social. Sua composição etimológica é a palavra prostitui. Esse antepositivo, do verbo latino prostituo, significa colocar diante, expor, apresentar à vista; pôr à venda. A prostituição é o campo social do prostituir.
Tamar, caananita, prostituta por necessidade, quase morreu queimada como uma bruxa e, contra o fracasso sexual e afetivo dos homens - em particular de Judá -, lutou com sua coragem, determinação e orgulho (Gn 38,1-26). Sua história é a de tantas mulheres, que arriscam a vida diante do universo opressivo dos homens. A Bíblia diz que ela vestiu-se como uma prostituta, uma qedeshá. Esse termo hebraico significa "mulher sagrada".
A prática da prostituição no antigo Oriente Médio não enfrentava censura moral e era extremamente comum. Na cultura mesopotâmica e cananéia, a prostituição era ritual. Os templos da deusa da fertilidade (Astarte, Istar) possuíam anexos onde homens eram servidos por mulheres consagradas, representantes da deusa, do princípio feminino da fertilidade. O intercurso com essas mulheres sagradas era comunhão com o divino, com o princípio da fertilidade, especialmente na festa do Ano Novo.
Raabe, prostituta profissional, tirará um espião de Josué do anonimato, ao gerar com ele uma linhagem caananita dentro de Israel. Esse Salmom merece o crédito de ter sido, ao desposar a prostituta de Jericó, o primeiro hebreu a ultrapassar a ordem de Moisés, dada no Deuteronômio - a de extirpar toda população caananita (Dt 7,1-11). O episódio mítico das muralhas de Jericó e da prostituta Raabe (Js 2,1-24; 6; 17, 23-24) explica porque tolerava-se uma linhagem caananita, em pleno território israelita (Js 6,15).
Rute, a moabita, como tantas mulheres no desespero total, entrega-se inteiramente ao seu "salvador". Deita-se sorrateiramente durante a noite com aquele que para elas é um esposo e deus, um pai e um marido, um irmão e uma herança. Se existe alguma falha nesse dom de amor, não está certamente na forma de oferecer-se, mas no fato de ter-se que humilhar-se sem saber se o outro responderá sim por piedade ou por um amor verdadeiro (Rt 3).
Bate-Seba, adúltera consciente ou inconsciente, nua, banhando-se no final da tarde, será vista pelo rei e inflamará o seu desejo sexual. Assim diz o relato bíblico, talvez para proteger a mãe do sucessor do trono, apresentando-a como uma vítima do desejo real. O fato é que Davi, numa história onde a hybris está totalmente desencadeada, deitará com essa mulher menstruada - mesmo sob sua advertência que estava nos seus dias de purificação, pecado ainda maior - e terminará por ordenar o assassinato de seu fidelíssimo marido! E dessa relação adulterina nascerá Salomão (2Sm 11,1-27).
É dessa vara, dessa "bela" linhagem feminina, de "mulheres sagradas" que nascerá o filho de José e Maria, o Cristo, o resgatador da humanidade. Essa genealogia lembra que na história da salvação "bons e maus" não são tão diferentes, como gostam de afirmar os moralistas estéreis. Nenhuma pessoa é totalmente boa ou má. Todos somos realizados e irrealizados, completos e incompletos, em nossa obra interior. As prostitutas na linhagem de Jesus mostram: na história da salvação há um lugar para aqueles que a lei e o fanatismo religioso tentam excluir, por decreto. A história santa não anda por caminhos tão santos. Os filhos de Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba são os frutos maduros da fértil história da salvação e de seus destinos de mulher.
Podemos claramente ver a graça de Deus na vida das pessoas que Mateus inclui na genealogia de Jesus.
Deus inspirou a Mateus para que pesquisasse a linhagem de Jesus, desde Abraão até José, o “pai” terrestre de Jesus. Mateus inclui algumas pessoas que nós certamente deixaríamos de fora.
O nome Jesus significa “ Jeová é salvação”.
Leia os textos que revelam o propósito da missão de Jesus (Mt.9:12 e 13; Lc.19:10; I Tim.1:15).
Abraão, o Amigo de Deus-Mateus começa sua genealogia, identificando Jesus como “filho de Abraão” (Mt.1:1). Fazendo assim, ele estabelece a identidade de Jesus, o Messias, como herdeiros das promessas feitas a Abraão (Gn.12:1-3; 22:15-18). Essa foi uma providência importante, pois os judeus não apreciavam descendência de “sangue impuro”.
Deus não baseou as promessas na fidelidade de Abraão, mas na Sua própria fidelidade. A Bíblia se refere a Abrão como o “amigo de Deus” (Tia.2:23).
Nos tempos de Jesus, as pessoas davam muita importância à possibilidade de traçar sua árvore genealógica. Em geral, queriam provar que eram descendentes de Abraão. Na teologia judaica da época, essa evidência genealógica tinha muito a ver com a salvação. Pertencer á linhagem de Abraão era considerado suficiente para a salvação porque ele era o pai da nação e através dele viera a promessa e o concerto.
Essa idéia, é claro, não deixava lugar para a graça, o conceito do Servo Sofredor, e a morte e ressurreição do Messias.
Mateus começa sua genealogia ligando Jesus com duas pessoas fundamentais: Davi e Abrão. Assim estabeleceu as credenciais de Jesus. Abraão foi i pai espiritual de Israel e Davi o fundador da dinastia real que “jamais seria destruída”.
Isaque e Jacó revelam a Graça de Deus - A vida de Isaque nos revela, mais uma vez, como uma pessoa pode demonstrar fraqueza, em certos momentos, apesar da bênção de Deus. Deus continuou demonstrando sua graça, ao aceitar Isaque e renovar Seu concerto e promessas (Gn.26:2-5; 26:24 e 25).
Mateus demonstra que a descendência messiânica é mais do que uma relação de parentesco e realeza. É uma linha de graça, um aspecto esquecido pela teologia judaica daquele tempo, mais muito enfatizado por Jesus.
Na genealogia de Jesus, Mateus inclui quatro mulheres. Talvez esperássemos o nome de mulheres importantes como Sara, Rebeca e Raquel, mas Mateus destacou a vida de Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba.
Leia sobre o caráter dessas mulheres:
- Tamar (Gn.38:6-26)
- Raabe (Js.2:1-21; 6:17,22,23 e 25)
- Rute (Rute 1-4)
- Bate-Seba (2 Sm. 11:2-5, 26 e 27)
A inclusão dessas mulheres na genealogia de Mateus deve ter levantado discussões entre seus leitores judeus. A vida dessas mulheres se constitui num exemplo de desejo de Deus de quebrar o preconceito segundo o qual o Salvador é para os que merecem Sua graça. E a história dessas mulheres demonstra que Deus deseja incluir em Seu reino até os maiores excluídos de nossa sociedade.
Ancestrais Estranhos - Tamar e Bate-Seba estiveram envolvidas em pecados sexuais iniciados por homens desequilibrados: Judá; (ver Gn.38) ou Davi; (ver 2 Sm.11). Raabe e Rute não eram judias por nascimento, mas foram consideradas como parte da família de Jesus.
Tamar tentou cumprir a lei do levirato, que era comum naquela época (casar-se com o cunhado para não perder a propriedade do seu marido, que morrera sem deixar descendência), mas teve que recorrer à sedução sexual para forçar o sogro a dar-lhe o que de direito era seu.
Raabe era uma prostituta profissional que passou a temer ao Deus de Israel e foi miraculosamente salva por Ele e veio a casar-se com um israelita de linhagem real (Calmon). Rute experimentou o poder do relacionamento com o parente-remidor e em função de sua decisão (Rute 1:16), também veio a fazer parte da linhagem real como a bisavó de Davi.
Cada uma dessas pessoas, por si mesma, é uma ilustração da graça de Deus atuando. A missão do Messias tinha a ver com a salvação, e não se limitava à liberdade política ou individual.
A experiência de Davi com a Graça- “Davi gerou a Salomão da que fora mulher de Urias”(Mt.1:6). Mateus poderia facilmente ter deixado de relembrar o pecado de Davi com Bate-Seba, mas ele provocou essa menção para nos lembrar da misericórdia de Deus em relação aos pecadores.
Como Davi tentou esconder seu adultério com Bate-Seba? (2 Sm.11:6-17)
Note como o Salmo 51 mostra a profundidade do arrependimento da Davi depois que o profeta Natã o enfrentou.
Quando reconhecemos e aceitamos a responsabilidade pelo nosso pecado, Deus imediatamente nos perdoa e nos restaura. Então, experimentamos a alegria do restaurado relacionamento com Deus.
Pela vida das pessoas que foram incluídas na genealogia de Cristo, fica evidente que Deus olha para o coração e não para as aparências.
Podemos ter confiança de que assim como Deus revelou Sua graça a pessoas tão comprometidas com o pecado também derramará Sua graça sobre nós. O Evangelho apresentado em Mateus é o "evangelho da inclusão" que muitas vezes hoje não se prega mais, o evangelho que inclui independentemente de quem seja o amor de Cristo nos une e nos salva.
Bibliografia:
https://pt.wikisource.org/wiki/B%C3%ADblia_Aberta/Mateus/Cap%C3%ADtulo_1#1 dia 26/06/2008 às 17:15
https://www.cienciaefe.org.br/jornal/0303/mt01.htm dia 26/06/2008 17:36autor Evaristo Eduardo de Miranda
https://www.bibliaonline.net/estudos/colecao.cgi?estudo=001&tema=9 dia 24/06/2008 17:10
[1] Ennesen, em grego, traduz o termo hebraico holid, cujo sentido é "faz gerar" quando se aplica ao pai e "gerar" quando aplicado a mãe. Holid é o primeiro dos 326 casos de semitismo no evangelho de Mateus.
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