Perspectivas Teológicas e Conceitos Clássicos da Doutrina do Pecado

04-09-2011 17:38

 

Dentro das perspectivas teológicas sobre o pecado analisaremos o conceito do livre arbítrio e a origem do pecado, faremos uma analise teológica, relacionado os efeitos causados e suas origens nos seres humanos e na sua posteridade, apontando para a graça redentora de Jesus Cristo.

A Bíblia detecta que o pecado esta na natureza do ser humano, sempre que buscamos a origem deste de mal, encontramos a pessoa do Adão como ser humano, o primeiro do gênero humano, Gênesis 3 mostra que o pecado não tem um pressuposto antológico, que tem uma realidade interpretativa no dualismo, que no principio filosófico, é uma realidade concreta, que todos nós participamos diretamente neste mal, se pudéssemos culpar Deus, seria fácil nos livrar da culpa, Gênesis 3 dá-nos a entender que a Bíblia define em forma de parábola a nossa vida e nossa existência, resumindo o pecado e proveniente do ser humano.

Na busca de compreender a origem do pecado muitos teólogos tiveram grande significância na história, porem há um consenso entre todos sobre esta origem, Sponheim atribui “[...] a origem absoluta do pecado na queda.” [1] Paulo na epistola aos Romanos diz que Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”[2] João Calvino diante deste texto de Paulo diz:

Isto o Apostolo faz claro da comparação daquele com Cristo. Diz [ele]: “Assim como através de um só homem entrou o pecado no mundo inteiro, e através do pecado a morte, que foi propagada a todos os homens, uma vez que todos pecaram, assim também, pela graça de Cristo, nos foram restituídas a justiça e a vida”.[3]

Nesta afirmação Calvino dar-nos a entender claramente que o pecado nos é imputado por hereditariedade somos herdeiros do pecado adâmico por herança:

“todos, portanto, que descendemos de uma semente impura, nascemos infeccionados pelo contágio do pecado. Na verdade, antes que contemplemos esta luz da vida, à vista de deus [já] estamos manchados e poluídos “[4]

O ser humano desobedeceu a ordem de não comer do fruto, isto introduz toda a humanidade no pecado, como conseqüência a morte eterna. Neste âmbito surge a base da salvação através da lei do antigo testamento: bem = recompensado; mal = castigo. Na ótica do novo testamento Jesus nos dá a “GRAÇA”.

Santo Agostinho em seu ponto de vista afirma que a origem do pecado adâmico esta ligado ao livre arbítrio como ele mesmo se refere no seu dialogo com Evódio:

[...] Muito bem. Nós já começamos a compreender penso eu, qual seja valor de lei eterna. E reconhecemos também até onde pode ir a lei temporal, em sua repressão como castigos. Distinguimos também, com claresa suficiente, as duas espécies de realidades, umas eternas e outras temporais. E as duas classes de homens, uns seguindo e amando as coisas eternas e outros, as coisas temporais. Estabelecemos ainda que é próprio da vontade escolher o que cada um pode optar e abraçar. E nada, a não ser a vontade, poderá destronar a alma das alturas de onde domina, e afastá-la do caminho reto. Do mesmo modo, é evidente ser preciso não consumar o objeto do qual se usa mal, mas sim a pessoa que dele mal se serviu.[5]

O ser humano aqui citado como “Adão” foi dotado deste livre arbítrio ou seja, a vocação de escolher entre o bem e o mal, entre o que é eterno e as temporais, porem, fica muito claro que a escolha partiu do homem, Deus não o impede na escolha, como diz o  salmista “Rendei graças ao SENHOR porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre”[6], nesta tradução misericórdia dox traduzida por chacad 1) ser bom, ser gentil. 2a) (Hitpael) mostrar bondade para. 2) ser reprovado, ser envergonhado. 1a) (Piel) ser envergonhado, ser reprovado[7] devido estas escolhas estarem  ligadas diretamente  na constituição moral do ser humano, que o capacita a escolher entre o que é certo e o errado, podendo trazer-lhe vida ou morte dependendo de sua escolha, Thiessen fala sobre estes poderes que os seres humanos são dotados de forma esclarecedora ao ponto de vista de Agostinho:

Para nós, isto se refere aos poderes que o capacitam a fazer uma ação certa ou errada. “Esses poderes são intelecto, sensibilidade e vontade juntamente com aquele peculiar de discriminação e impulso que chamamos de consciência”. [...] O intelecto capacita o homem para discernir entre o certo e o errado; a sensibilidade apela para que faça um ou outro; a vontade resolve o assunto.[8]

Este poder de decidir sobre sua vida atribui ao ser humano o seu distanciamento do Criador, podemos até dizer que é “um assalto à bondade de Deus” [9] visto que esta não é a sua vontade, este afastamento deixou-o a deriva, a mercê da escravidão do pecado, esta forma de ver a liberdade da vontade livre o próprio Evódio diz:

É bem como dizes e eu concordo [...]cada um, ao pecar, afasta-se das coisas divinas e realmente duráveis para se apegar às coisas mutáveis e incertas [...], parece-me já termos resolvido com clareza, a saber: “De onde vem praticarmos o mal?” (cf. I,2,4). Se não me engano tal como a nossa argumentação mostrou, o mal tem sua origem no livre-arbitrio da nossa vontade.[10]

Neste ponto cabe uma pergunta: À vontade e decisão são realmente livre? Não podemos negar que responder esta pergunta é difícil, por que ser humano “Adão” quando teve a sua oportunidade de fazer o que era correto não o fez, porem, a sua inclinação foi contraria ele perdeu sua chance, ele [...] com certeza [...] tinha poder para escolher o contrario. Sua posição pode ser expressa pelas palavras: Posse pecare non pecare. Mas quando ele caiu, perdeu tal poder.[11] Agora sem poder de se governar, sua natureza corruptível lhe colocou em posição nem um pouco agradável, pois o pecado invade a sua vida, a desobediência passa a fazer parte de sua vida, a partir deste ponto o ser humano “Adão” passou a ser escravo pecado, mas Deus não desculpa o homem desta condição, pois foi à escolha entre a obediência e o ser igual a Deus que nos coloca nesta condição, e [...] para que o livre arbítrio seja restaurado e recuperado, é necessária a atuação da graça de Deus. O livre arbítrio realmente existe; entretanto, ele se encontra debilitado pelo pecado.[12]

 
Agostinho considera a natureza do pecado original como causa e efeito, o ser humano já nasce com a causa que nesta situação é querer ser igual a Deus, o efeito é o afastamento do Criador e a conseqüência a morte que afetará diretamente cada um de nós, Agustinho desenvolveu três analogias que nos faz entender melhor o pecado original, enquanto trabalha com o conceito “doença”, força” e “culpa.

A primeira analogia trata o pecado como uma doença hereditária, passada de geração em geração.[13] Tanto Agostinho e Calvino, confirmam a forma de transmissão do pecado original, porem se tratarmos como doença, fica claro que a nossa natureza consiste de um mal que não pode ser curado por homens, qualquer intervenção humano não anula e nem cura, e necessário uma intervenção divina, é preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus. Desta forma o ser humano é curado, e pode então ver a sua condição.

A segunda analogia trata o pecado como uma força que nos mantém cativos e de cujo domínio somos totalmente incapazes de nos libertar.[14] O pecado é algo de difícil controle, como pecado é uma lei, dá mesma forma que a lei da gravidade, não se pode soltar qualquer objeto de uma determinada altura e afirmar que ele não será puxado para o centro da terra, da mesma forma o Ser humano é incapaz de não pecar, por que o pecado geralmente é algo prazeroso, ninguém comete uma transgressão da lei pelo simples fato de errar, mas por que o prazer proporcionado é maior, isto nos mantêm cativos à força do pecado, ficamos a mercê da própria sorte, mas, Cristo vem como nosso libertador, nos tira do pecado, sua graça é a fonte de destrói a fortaleza do pecado dando-nos condições para vivermos livres novamente.

A terceira analogia trata o pecado como um conceito essencialmente forense ou jurídico – a culpa – transmitida de uma geração a outra.[15] Dentro do conceito comum de uma sociedade que busca valorizar somente a lei como um principio básico que rege a vida em sociedade, é fato que o pecado seja visto como prova da falta cometida diante da lei de Deus, mas a morte de Jesus Cristo satisfaz a lei quando a sua santidade diante do pecado, Ele tomou a nossa culpa para si. A obra redentora de Cristo foi intencionada para salvar somente os eleitos e, de fato, assegurou a salvação destes. Sua morte foi um sofrimento substitucionário da penalidade do pecado no lugar de certos pecadores específicos. Além de remover o pecado do Seu povo, a redenção de Cristo assegurou tudo que é necessário para a sua salvação, incluindo a fé que os une a Ele. O dom da fé é infalivelmente aplicado pelo Espírito a todos por quem Cristo morreu deste modo, garantindo a sua salvação.

A lei desta forma se cumpre em Jesus, Deus nos a condição impostas para nos redimir da falta que nos foi imputada, a nossa fé e arrependimento, João Batista, Jesus e Pedro em suas pregações nos exortam a esse arrependimento e ato de fé, a santidade é um atributo de Deus, pois essa razão a necessidade da morte de Cristo para satisfazer e remover a mancha do pecado.

O homem pecou contra Deus e incorreu em Seu desagrado e condenação. Deus, por direito, exige a pena de uma lei que foi quebrada. Não pode libertar o pecador até que as exigências da justiça sejam cumpridas. A morte de Cristo satisfaz plenamente essas exigências. Como no caso dos condenados pelo estado, se o criminoso paga a pena prescrita na lei, não está mais sujeito à condenação. “Nenhuma outra punição pode ser, com justiça, requerida por aquela ofensa. É isto que é chamado de perfeição da satisfação de Cristo. Por seu próprio valor intrínseco, ela satisfaz perfeitamente as exigências da justiça.[16]

O fato é que o se humano no seu ato livre pecou, a desobediência e o querer ser igual a Deus são os objetos do pecado, se no inicio da humanidade, como se têm tentado explanar até aqui se o Adão e a Eva que simbolicamente representam toda uma humanidade, resta-nos somente reconhecer a nossa posição diante do pecado e nos arrepender, para que o próprio Deus em sua eterna misericórdia volte a nos olhar e tirar-nos da condição que o ato inconseqüente do pecado não nos separe do Criador. [...] O homem ainda pode, na realidade fazer escolhas que o levem a uma melhora externa temporária, mas nada pode fazer para conseguir uma mudança permanente de sua vontade e natureza.[17]

Sendo assim a salvação não parte da iniciativa humana, e um ato da graça de Deus, por meio deste chamado especial o Espírito atrai os pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra de aplicação da salvação pela vontade do homem, nem depende, para o Seu sucesso, da cooperação humana. O Espírito graciosamente leva o pecador eleito a cooperar, a crer, a arrepender-se, a vir livre e voluntariamente a Cristo. A graça de Deus, portanto, é invencível. Nunca deixa de resultar na salvação daqueles a quem ela é estendida.

Bibliografia:

Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada (RA), trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil   (SBB), São Paulo, SP, 1993.

SPONHEIM, Paul R., Dogmática Cristã. São Leopoldo: Sinodal, 1990

CALVINO, João. As institutas ou tratado da religião Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.

AGOSTINHO, Santo. O livre Arbítrio 2ª Ed. São Paulo: Paulus, 1995.

STRONG, James. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

THIESSEN, H. C. Palestras em teologia Sistemática. São Paulo: IBR, 1987.

MCGRATH, A. E. Teologia sistemática, história e filosofia. Uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Publicações Shedd, 2005.

 

 

 

 


[1] Paul R. Sponheim, Dogmática Cristã. p. 382

[2] João Ferreira de Almeida (trad.), Bíblia Sagrada. Ed. RA

[3] Calvino, J. As institutas ou tratado da religião Cristã, 1985 p.7

[4] Calvino, Institutas, p. 6

[5] Agostinho, Santo. O Livre Arbítrio 2ª Ed., 1995, Pp. 67-68

[6] Bíblia Sagrada, Salmo 107:1

[7] STRONG, J., Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, 2002.

[8] THIESSEN, H. C. Palestras em teologia Sistemática,  p. 158

[9] Sponheim, p. 384

[10] Agostinho, Pp. 68 e 69

[11] THIESSEN, Palestras... p. 159

[12] MCGRATH, 2005, p. 507

[13] MCGRATH, p. 509.

[14] Ibdem, p. 509.

[15] Ibdem, p. 509.

[16] Thiessen, p. 232

[17] Ibdem, p.160

 

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